Antes de iniciar as abordagens quanto à produção de notícias para o jornalismo online, irei apresentar brevemente a redação jornalística para os meios tradicionais, que assume a metodologia de uma pirâmide invertida que apresenta as informações de maneira decrescente de importância, do lead (ou lide) ao final (ou desfecho).
Estrutura da redação jornalística: a pirâmide invertida

Dentro desta concepção, você pode notar o grau de hierarquização das partes dos contextos, maximizados por divisões pragmáticas que se apresentam em três camadas sequenciais: da mais importante para a de menos valor.
1ª) lead (o quê, quem, quando, onde, como e por que);
2ª) Dados secundários;
3ª Final (desfecho).
Basicamente, uma composição em três atos, conforme a metodologia de narrativas que são configuradas desde a Grécia antiga (com Aristóteles, na sua Poética).
A estrutura da pirâmide deitada no jornalismo online
Em contrapartida, a adaptação da redação jornalística para o meio digital buscou aproveitar as características da Web, ou seja, a exploração dos hiperlinks embutidos nos textos e das ligações hipermidiáticas.
Redação para webjornalismo: pirâmide deitada

Dessa forma, como uma metáfora aos símbolos musicais, de uma maneira crescente, a escrita no webjornalismo é direcionada da sguinte maneira:
- Unidade Base
- Nível de Explicação
- Nível de Contextualização
- Nível de Exploração
Partindo da base como a metáfora de uma nota musical, a construção dos contextos vai e formando a partir do Iead em o modelo de explicação (no continuum das questões do lead ao produto noticioso em expansão). A geração de vias que se manifestam pelas hiperligações promove a aquisição de conhecimento em diversas fontes, canais, textos e discursos, onde transbordam possibilidades infinitas de camianhos.
Responsável pela fluidez da pirâmide deitada, o hipertexto faz jus ao seu propósito de articular os produtos de comunicação (textos, vídeos, áudios, imagens, etc.) através dos hiperlinks. Por isso, ao deitar a pirâmide, ainda que se tenha uma sequência de leitura, perde-se a autoridade hierárquica frente ao que era “de-cima-para-baixo” na pirâmide invertida.
Tais critérios de exploração de recursos de fontes externas ao texto original, são escolhas dentro da ordem do discurso do próprio autor: ou seja, ao escolher uma ligação para outro site, outra página ou qualquer outro canal, o autor está imprimindo a sua voz através do outro, e compondo, ou fortalecendo, o seu próprio discurso.
Ao se aproveitar do hiperlink, que seja este embutido no texto, oportuniza-se ao leitor uma chance de explorar a rede indicado pelo autor, como se à nota musical fossem acrescentadas outras até se tornar uma composição.
Entre o solo, ou seja, um texto publicado no hipertexto, sem hiperlink; e a sinfonia, ou seja, o texto publicado no hipertexto com diversas hiperligações, há a diferença entre um produtor de conteúdo mais robusto e preparado para a utilização da web na sua forma básica e um produtor de conteúdo que se encerra em si.
Por estas razões, a pirâmide deitada entrega uma maneira de se pensar a produção jornalística para a Web que parte de uma unidade base até a sua exploração, como você poderá ver na figura a seguir.

Na matéria analisada na figura, você pode notar que a abertura se faz brevemente com a Unidade Base e que, a partir dela, há os outros blocos que se seguirão sem que haja, necessariamente uma hierarquia. Esse é o mote de uma publicação em rede, com nós que são infinitos e cambiáveis.
[Para citar este artigo utilize: MANFROI, Luciana (2022). Disponível em https://lucianamanfroi.com/2022/05/22/metodologia-para-o-webjornalismo-exemplo-de-piramide-deitada ]
Após a Unidade Base, as outras partes da pirâmide em matéria de jornalismo online são contempladas da seguinte maneira:
- O bloco subsequente ao da unidade base é o da Exploração. Geralmente, a exploração é definida quando já se apresenta a Explicação e a Contextualização. Mas, como não há realmente uma regra para a web, tirando a apresentação da Unidade Base, a Exploração entra no recorte de opiniões do público em uma rede social.
- Após a Exploração, o bloco que se apresenta é o da Explicação + Contextualização que se manifesta em trazer mais informações ao público na explicação e, ainda, concomitantemente, abrir para a hiperligação externa, oportunizando aos leitores a exploração de outras fontes, canais, dados, informação e amplitude de conhecimento.
- O próximo bloco, novamente, traz a Exploração, com um vídeo sendo utilizado como produto de comunicação, entretenimento, informações e mais: de permanência por mais tempo na publicação, o que gera mais engajamento, conversão e métrica para a otimização para os buscadores (SEO).
- Para finalizar a análise da imagem (mas não da publicação, pois esta continua no site), o bloco da Explicação e Contextualização que traz novamente so hiperlinks para outros conteúdos e formatos, assim como a hiperligação interna, para outras matérias do mesmo site.
E aqui nós temos essa expansão de atributos metodológicos em uma publicação jornalística, com a exploração dos blocos da pirâmide deitada, ous eja, não hierarquizada, mas entrelaçada de contextos, produtos, vozes, textos e discurso.
Para você expandir mais o seu conhecimento, sugiro a leitura de alguns materiais sobre jornalismo online, ou webjornalismo, assim como a sua construção na Web, com o seu caráter hipertextual e com a utilização exploratória dos hiperlinks.
Livro sobre Webjornalismo
Apresentação
Embora existam em todo o mundo centenas de publicações online do período
pré-World Wide Web, foi o desenvolvimento deste novo meio que transformou
para sempre o jornalismo. Entre as muitas alterações registadas destaca-se o aparecimento das versões web dos meios tradicionais, mas também o
nascimento de publicações nativas. É neste campo que se inscreve a obra que
agora apresentamos.
Em “Webjornalismo: 7 caraterísticas que marcam a diferença” estuda-se
cada uma das particularidades que distinguem o jornalismo que se faz na Web
dos que se fazem noutros meios.
Com essa inalidade foram convidados sete autores de sete países, tendo-lhes
sido pedido um capítulo sobre cada uma das sete caraterísticas. alguns trabalhos
são versões atualizadas de publicações anteriores.
No capítulo 1, o português João Canavilhas aborda a hipertextualidade, apresentando a evolução do conceito e um conjunto de arquiteturas para a notícia na Web. Na sequência dos seus trabalhos anteriores, propõe ainda uma gramática multimédia adaptada a um meio com as caraterísticas da Web.
No capítulo 2, o espanhol Ramón Salaverría fala de multimedialidade, começando por deinir e integrar o conceito nas suas várias facetas. Posteriormente, o autor analisa cada um dos elementos que compõem a narrativa multimédia e as formas como podem ser combinados.
No capítulo 3, o argentino Alejandro Rost discorre sobre a interatividade, começando também por definir o conceito e apresentar os diferentes tipos de interatividade existentes. a noção de utilizador na sua ligação com as formas de interação estão igualmente no centro das atenções do autor, que identifica ainda as novas tendências no estudo da interatividade.
No capítulo 4, o brasileiro Marcos Palacios analisa a memória como ferramenta narrativa. o autor destaca o papel da memória digital no jornalismo, e seu impacto nas rotinas de produção, nos modelos de negócio, no relacionamento dos media com os leitores e, claro, na produção de formas narrativas diferenciadas.
No capítulo 5, o inglês Paul Bradshaw fala da instantaneidade e do seu umbilical vínculo ao jornalismo. o autor aborda o conceito na sua ligação ao consumo, à produção e à distribuição de notícias. é sobretudo na instantaneidade da distribuição que o autor foca o seu trabalho, destacando, que o segredo da publicação online está no equilíbrio entre a velocidade e a profundidade.
No capítulo 6, o alemão Mirko Lorenz aborda a personalização, destacando a importância dos nichos para a informação na Web. O autor identifica seis graus de personalização, que vão da adaptação do conteúdo a diferentes plataformas, até ao grau mais complexo, o das aplicações móveis que combinam as várias formas de personalização, recorrendo a informações disponíveis em bases de dados.
Por fim, no capítulo 7, o norte-americano John V. Pavlik analisa a ubiquidade, começando também por definir o conceito. De seguida, analisa o jornalismo na era da aldeia global, abordando a emergência do jornalismo cidadão, dos conteúdos geolocalizados e imersivos, e do jornalismo de dados. o autor chama ainda a atenção para algumas consequências nefastas da ubiquidade, como a perda de privacidade e as eventuais restrições ao discurso digital livre e aberto, situação que pode colocar em perigo o funcionamento das democracias.
Sete caraterísticas analisadas por sete autores de sete nacionalidades. é esta a proposta deste livro que oferece uma perspectiva rica e variada de um fenómeno que, em pouco mais de uma década, ganhou um espaço próprio no campo das ciências da comunicação.
Multimídia no webjornalismo
Para finalizar (por enquanto), analise a imagem abaixo, do portal Expresso de jornalismo on-line, de Portugal. A imagem mostra diversos produtos de comunicação que fazem parte de uma grande reportagem. A fluidez com que a matéria oferece diversos produtos de comunicação sobre o tema pode ser considerada além da dinâmica da influência dos hiperlinks na rede e na construção social; ela se apodera da interatividade e multimidialidade para resolver problemas angustiantes do dia-a-dia: a falta do lúdico no jornalismo.
E é o lúdico este que, por mim, é considerado o acionamento do hiperlink como forma de entregar ao leitor o papel ativo de sujeito. Além disso, o jornalismo se entrega ao entretenimento, pois lúdico que se torna, torna também os seus produtos de comunicação (detalhes na imagem) ativos.

Hoje, eu fico por aqui, com a certeza de que o trabalho de produção e análise de conteúdo para a Web tem um caminho ao infinito e além, assim como os hiperlinks para o meio digital: só existe o meio se houver quem o ligue.
Para citar este artigo utilize: MANFROI, Luciana (maio, 2022). Disponível em https://lucianamanfroi.com/2022/05/22/metodologia-para-o-webjornalismo-exemplo-de-piramide-deitada